Um condomínio é um legitimo laboratório de campo da convivência humana. Nele, indivíduos das mais diferentes origens, culturas, índoles e condições financeiras têm que compartilhar áreas e necessidades comuns, e provar que o ser humano é capaz de viver em sociedade. As neuroses, crises existenciais, animais domésticos e hábitos exóticos de cada um, quando expostas abertamente, passam a fazer parte do cotidiano de todos sem consulta ou licença prévia. Isso é o que torna a raça humana tão complexa quanto fascinante, e testa os limites da tolerância, de uns, e de civilidade, de outros! Onde mais poderíamos ouvir ópera, rap, vira, pagode e musica sertaneja, ao mesmo tempo e com máximo volume, sem precisar ligar nenhum aparelho de som em casa? Ou assistir, quem sabe, ao nascimento de um novo instrumentista musical? Onde seria possível encontrar pessoas aparentemente “finas”, cultas e civilizadas, mas que, quando flagradas ou contrariadas, são capazes de revelar surpreendente arrogância e falta de tato em vários idiomas? Onde mais, num país tropical, você olharia pela janela e seria surpreendido por neve? Tudo bem que são migalhas de pão ou pelos do cachorro, provindos de toalhas e tapetes sacudidos, rápida e dissimuladamente, pensando que ninguém vai saber. Também têm as estrelas cadentes (pontas de cigarro acesas). Que nunca atendem nossos pedidos, mas podem queimar ou incendiar. Mas sejamos românticos! Você pode sentir-se em Nápoles, vendo tapetes e lençóis pendurados nas fachadas. Pura “cortição”! Também pode viver o milagre da transição social relâmpago, pois os críticos de plantão – por falta do que fazer – adoram distribuir adjetivos aos que elegem como desafetos. Dependendo da motivação, sua “bolsa de valores” oscila entre o “esnobe” e o pobre em uma fração de segundos. Mesmo um prédio de alto luxo pode abrigar “barracos” incríveis... Mas de alto nível! Para quem sonha com uma casa com quintal um condomínio não é um anticlímax. Você pode deixar seu cãozinho de guarda cuidando da porta de entrada, latindo, alerta, para todos os que distraidamente saem do elevador. E não se incomode quando os vizinhos reclamarem que ele passa o tempo todo ganindo, quando não tem ninguém em casa; ou que urina e defeca em áreas comuns, com ou sem sua supervisão. Isso é fruto da insensibilidade das pessoas, que precisam aprender a respeitar os sentimentos e necessidades dos animais. Afinal, eles também são gente! No mais, o fato de você ter que compartilhar espaços com outros não é um empecilho para a sua individualidade. Você tem seus direitos e sua personalidade! Por isso, não se importe se alguém reclamar das pontas de cigarro, papel de bala e outros dejetos que você, caprichosamente, lança a menos de dois metros daquelas lixeiras que existem bem visíveis e sinalizadas, em cada andar do edifício. Também não fique constrangido de entrar cheio de malas e pacotes no elevador social. Afinal, você mora no prédio! Não esta ali a serviço... No mais, as pessoas precisam aprender a ser tolerantes... Com você! Você só esta treinando para atingirem esse estagio superior... E gratuitamente! Mas não esqueça de advertir seus vizinhos: inconveniente e mal educado é quem se incomoda! E cuidar da vida dos outros e chamar-lhes a atenção é muito feio! Sempre tem um jeito de inverter a situação, passando de algoz a vitima, né? Quem vive ou viveu em condomínios já passou, seguramente, por alguma das situações acima. Conhece os estressados, os ranzinzas, os mal-amados, os excêntricos, os dissimulados, os fofoqueiros e os espaçosos, desde os mais inofensivos aos da alta periculosidade. Talvez já tenha sido um deles, mesmo sem notar. Felizmente, eles são exceções. A vida em condomínio é tão complexa e aleatória que os psicólogos e psiquiatras perdem muito se não exercerem suas funções in loco. Num grupo tão diverso de pessoas, com experiências, idades e valores diferentes, equacionar egos e interesse é difícil. Isso é natural, pois o condomínio é o microcosmo da sociedade, revelando tanto suas virtudes, quanto suas mazelas. Mas também propicia ótimas oportunidades para praticar solidariedade, cortesia e amizade se houver disposição para tanto. O cotidiano já é tão estressante... Por que, então, guardar desaforo em casa e viver num clima pesado? Cuidado! As estruturas dos prédios – e de muitas pessoas – não são projetadas para esse tipo de carga! Adilson Luiz Gonçalves Engenheiro e Professor Universitário |